quarta-feira, 4 de junho de 2014

Resenha do livro "Projeto Rosie"

Para se ter a vida de Don Tillman, não é preciso muito esforço. Às terças-feiras come-se lagosta com salada de wasabi (seguindo um roteiro com refeições padronizadas que evitam o desperdício de ingredientes e de tempo no preparo); todos os compromissos são executados de acordo com o cronograma – alguns minutos reservados para a prática do aikido e do caratê antes de dormir; uma hora para limpar o banheiro; três dias da semana reservados para suas idas à feira – e se, apesar dessa programação, algum desagradável contratempo surgir em sua rotina, não há nada que não possa ser solucionado com meia hora de pesquisa científica. Exceto as mulheres. Até o momento, a única coisa não esclarecida pelos estudos no campo de atuação de Don, a genética, é o motivo para sua incapacidade de arrumar uma esposa. Uma namorada ao menos? Ou até mesmo uma amiga para somar ao seleto grupo de amigos de Don, formado por Gene, também professor na universidade, e a mulher dele, Claudia, psicóloga e esposa muito compreensiva. Para solucionar esse problema do modo mais eficaz, Don desenvolve o Projeto Esposa, um questionário meticuloso que irá ajudá-lo a filtrar candidatas inadequadas a seu estilo de vida: fumantes JAMAIS, e mulheres que se atrasam por mais de cinco minutos ou que usam muita maquiagem estão fora dos critérios pouco flexíveis que o levarão à mulher ideal. O único problema é que um questionário desse tipo exige tempo e dedicação, duas coisas que começaram a diminuir exponencialmente no cotidiano de Don desde que ele conheceu Rosie: fumante, vegetariana e incapaz de chegar na hora marcada. Ou esse era o único problema até Rosie entrar na vida de Don e – despretensiosamente, uma vez que ela nunca se candidatou ao Projeto Esposa – mostrá-lo que a mulher ideal não existe, mas o amor, sim. Don Tillman, não é o típico homem que se vê por aí, não mesmo! Imagine só: 39 anos, bonito, musculoso e muito inteligente. O australiano é professor de genética, tem ótima memória, é organizado, pontual, etc. Digamos que é o cara perfeito! Mas ele nunca teve muito jeito com as mulheres. Em seu estilo de vida, "friamente calculado", um relacionamento parece impossível, pois parece que algo nele as repele. E Don não teve experiências muito promissoras com o sexo oposto, além de, aparentemente, estar "programado" para não se sentir apaixonado ou ter grandes emoções. Sendo assim, ele decidiu que se envolver com uma mulher depende muito mais de planejamento e compatibilidade, para que o relacionamento não esteja fadado ao fracasso. Com seu traquejo social praticamente nulo, Don tem sérios problemas sociais, e praticamente não tem amigos, se não fosse por Gene e Claudia (casados), sua irmã já falecida e Daphne, uma senhora que foi sua vizinha. Digamos que, em sua vida fechada, ele parece até confortável, mas está cansado. Ele quer uma companheira que seja compatível com seu estilo de vida. Mas isso parece impossível. Até o dia em que ele decide criar o Projeto Esposa. O projeto consiste em uma rigorosa avaliação do perfil feminino, onde ele cria um extenso questionário com questões eliminatórias. Esquisito? Para ele não! Assim ele poderia eliminar futuras pretendentes que não se ajustassem ao seu modo de encarar a vida, e poderia achar sua futura esposa, a mulher ideal e totalmente compatível com seus propósitos. Mas esta tarefa não será nada fácil! Mais difícil ainda quando Rosie Jarman entra em sua vida. A partir daí, toda sua vida organizada, meticulosa, cheia de regras e horários parece desmoronar. Seus propósitos parecem perder força e suas convicções parecem ruir aos poucos, lentamente. Sem perceber, aos poucos, Don se envolve com Rosie de uma forma que ele nem ao menos percebe, e Rosie muda a vida de Don, apenas sendo ela mesma! O Projeto Rosie foi para mim uma boa surpresa. Apesar de ter uma história previsível, é de uma leitura deliciosa e envolvente. Don não é um dos meus personagens favoritos entre os livros que já li do gênero, e de inicio o achei até irritante. Ele é muito sistemático e organizado; sua vida segue uma rotina já predeterminada, com horários marcados de forma rigorosa; não vive emoções e sensações novas; não gosta de mudanças, surpresas ou alterações em seus planos. Confesso que em vários momentos do livro eu tive vontade de dar uns tapas nele e dizer: "Acorda! Acorda! Muda criatura, muda esta sua atitude irritante!". Haha, mas não, não pude fazer isso. Mas fiquei impressionada com a inteligência de Don, ele realmente é um prodígio. Sua excelente memória grava até os detalhes mais ínfimos; aprende rápido e analisa cada situação de forma que todas as possibilidades se apresentam em sua mente de forma clara e objetiva. Sua mente parece programada de forma a adquirir e armazenar conhecimento de forma admirável. Don é um verdadeiro computador! E gostei do modo como o personagem evolui e aprende diversas lições ao decorrer da trama. Depois que ele conhece Rosie ele começa a ver diversas coisas de uma perspectiva diferente, de forma fácil e sem ao menos perceber. E no fim acabei por dar o braço a torcer e me afeiçoei bastante ao Don. Adorei! E claro, Rosie se tornou minha personagem favorita no livro. Ela tem defeitos, é chata e irritante em muitos momentos. Mas tem muitas qualidades também, como qualquer ser humano. Gostei da transformação que ela causa em Don, e até nela mesma. Rosie mostra como é bom se divertir, não ter tudo planejado sempre, e se arriscar. Como é bom realmente viver. Sabe aquela frase que diz: "Não apenas sobreviva, viva!", se aplica muito bem ao contexto do livro. O ato de viver, de se surpreender e arriscar. De ser feliz com pequenas coisas, como olhar para as luzes da cidade de noite, ou ouvir uma velha música que te lembre da adolescência. Enfim, adorei esta sacada do autor que conseguiu transformar as atitudes, perspectivas e modo de encarar a vida dos personagens de forma sutil, introduzindo casa ideia lentamente em sua narrativa. De forma que ao final, estas sutilezas se tornaram uma grande lição para ambos. O Projeto Rosie pode não ser o livro mais original do ano, mas proporciona uma leitura agradável, com uma história que se desenrola de uma maneira que parece um filme. Em diversos momentos me peguei rindo alto com as trapalhadas de Don. Muito divertido, bem narrado, com personagens interessantíssimos e uma trama gostosa cheia de licões. Gostei.

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